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Meu pulso sobe muito no exercício máximo. Isso é saudável?
Pílulas do exercício saudável, por Claudio Gil Araújo
por Iúri Totti
05/02/2015 12:21
Foto | Arquivo
Meu pulso sobe muito no exercício máximo. Isso é saudável?
Se
há um orgão do corpo humano em que tememos qualquer falha de
funcionamento, esse órgão é o coração. Considerado por alguns como o
órgão mais importante e sede de sentimentos fortes, ele não tem
sobressalente e trabalha ininterruptamente desde a vida fetal até o
último dos nossos dias. Afinal, considerando uma expectativa de vida ao
redor de 80 anos e uma frequência cardíaca (FC), número de batimentos
por minuto (bpm), de aproximadamente 70, teríamos algo próximo a um
total de 3 bilhões de batimentos cardíacos durante nossa vida! Por uma
questão cultural, em geral, tudo no máximo tende a ser considerado como
um exagero. Não é diferente em relação ao batimento cardíaco ou pulso na
visão do leigo e, pelo contrário, muitas pessoas mostram uma grande
preocupação quando seu pulso sobe para valores que lhe parecem
excessivos.Foto | Arquivo
Uma
parcela dessa preocupação deriva do conhecimento pela imprensa da
ocorrência de eventos fatais em atletas participando de treinos ou
competições ou de pessoas comuns fazendo exercício que parecem ser
excessivos. Essa preocupação atinge especialmente aqueles que fazem
exercício físico visando à promoção da saúde e aos maratonistas,
triatletas, nadadores e ciclistas masters. Para complicar ainda mais a
história, há fórmulas amplamente divulgadas e disponibilizadas em
equipamentos (frequencímetros e esteiras) que preconizam prever a FC
máxima. Dentre essas, provavelmente a mais conhecida é a que prevê a FC
máxima como 220 menos a idade em anos do indivíduo. Mas afinal, será que
do ponto de vista médico existe um pulso que não deva ser ultrapassado?
Vamos por partes.
Primeiro, vamos entender mais um pouco sobre o
assunto. A FC máxima é o maior valor de FC que o indivíduo consegue
alcançar em condições de um exercício máximo. Para obter uma FC máxima, o
exercício deve envolver esforço máximo, com grandes grupos musculares
(correr, por exemplo) e ter uma duração de pelo menos dois minutos.
Condições climáticas desfavoráveis – temperatura e umidade elevadas – ou
estresse competitivo podem elevar ainda mais esse valor. Na prática
cotidiana, a maioria dos indivíduos não competitivos e saudáveis obtém a
sua FC máxima em um teste de exercício (também chamado de teste de
esforço ou teste ergométrico), no qual incrementos progressivos de
intensidade são feitos até alcançar a efetiva exaustão. Se o teste de
exercício é interrompido antes dessa exaustão, a FC máxima tende a ser
subestimada. Contudo, em determinadas situações clínicas, seja por uso
de medicamentos que reduzem o batimento cardíaco (cronotropismo) ou por
limitações cardiorrespiratórias patológicas, valores relativamente
baixos de FC máxima podem ser obtidos.Foto | Dr. Claudio Gil Araújo aplicando um teste de esforço
Segundo
ponto importante, o uso de equações para predizer a FC máxima. A
equação FC máxima = 220 – idade (anos) é uma formulação algébrica
simples de 1º grau do tipo y = ax + b e que sugere (algo provavelmente
incorreto), que a FC máxima diminui por igual e regularmente a cada ano
de vida. Assim, a FC máxima tende a ser maior nos jovens e mais baixa
nos idosos. Como toda equação de regressão linear voltada para a
predição de algo, a equação tem uma margem de erro, especialmente quando
aplicada para outros grupos populacionais distintos do original no qual
ela foi desenvolvida. Entre as várias limitações práticas e teóricas,
deve-se ressaltar que essa equação tem um erro médio da estimativa
ao redor de 10 bpm em sua amostra original*. Aplicando os conceitos
estatísticos de regressão linear, temos que para um indivíduo de 50 anos
a FC máxima seria de 220 – 50, ou seja, 170 bpm, mas com uma margem de
erro de predição igual a ± 2 erros de estimativa. Dessa forma, a leitura
correta da equação é que para um indivíduo com 50 anos de idade, a FC
máxima deve se situar entre 170 ± 20 bpm em 95% dos casos, ou seja,
valores entre 150 e 190 bpm acontecem em 19 para cada 20 indivíduos de
50 anos de idade. Observem ainda, que é
igualmente provável, ficar
abaixo ou acima, da FC de referência (170 bpm). Portanto, o ideal é que a
FC máxima seja medida em cada indivíduo e não prevista por equações.
Na prática, possuir uma FC máxima alta pode provavelmente ser
considerado como representativo de uma juventude fisiológica.
Terceiro
ponto e o mais importante, é que, em um coração saudável, sem doença
estrutural miocárdica ou valvar ou lesão obstrutiva coronariana
significativa, não há nenhum dano em alcançar a FC máxima. Na realidade,
o coração talvez até se beneficie, pela simples lei do uso e do desuso,
de chegar, pelo menos eventualmente, ao seu batimento máximo.
Em
suma, voltando a pergunta-título do texto, a resposta que o
especialista deve dar para essa questão tão comum é que se temos certeza
que o coração é saudável, não há risco ou dano em subir o pulso e que
valores altos de pulso ou FC, até acima do que as equações tendem
a prever, podem ser um sinal de saúde e não de doença.
* A FC
máxima pode ser melhor predita pela aplicação de uma equação validada
pelo nosso grupo de pesquisa em mil brasileiros adultos e saudáveis [FC
máxima = 208 – 0,7 x idade (anos)] (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23175180).Dr. Claudio Gil Araújo, professor visitante sênior de Cardiologia- Instituto do Coração Edson Saad - UFRJ/CLINIMEX – Clínica de Medicina do Exercício